segunda-feira, 11 de setembro de 2006

do Julio Teixeira

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"(simbolos Hermeticos) Sol Central Oitavo Sistema-raiz do universo"
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" terceiro sistema ainda embrionário de ânima, animal, formas astrais..."

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Minha homenagem a este homem de raciocínio singular, especial, Julio Teixeira.

sábado, 9 de setembro de 2006

Lua pequena


Milhões de crianças
Em farra algazarra
De acorda o peito
É quando a praça é o mundo
Em beijos de aves
Caminhos de todos.
Colírios olhos de diamantes
Faz ponto de encontro em gente
Luz sorridente calçada.
Em minério bruto brita
Camas calcarias
Escamas de pele reluz
Alvo domingo de brincar
E ao anoitecer
Cantarolando canções
De acordar lua menina pequena
Faz floresce de mansinho
O sonho sono santo
Das crianças
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MARKO ANDRADE
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Um Homem sensível como poucos. Desarruma as palavras mostrando-nos seu verdadeiro sentido.
Lindo homem! Homem lindo!

quarta-feira, 29 de março de 2006

Adeus


Eu ainda não aprendi a soletrar adeus
E a poeira da estrada
Muito arranha meus olhos
E o tempo que se solta pra me prender
Não sabe da dor e nem de mim
Esse tempo que sempre antecipa o fim
Esquece-me num sonho sem limite
Onde o amor não é azul
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Eu ainda não esqueci você
E menino tolo que sou
Peço sempre ao vento
Pra deixar em seu colo flores caindo
E com cantigas amenas
Peço a passarinhos pra te acordar bem cedo
Com algazarras de felicidades
Da brisa peço um beijo
E no meio da noite
Que anjos te visitem
E que seus olhos brilhantes
Seja sempre a cor da aurora transbordante
E assim eu mesmo de longe
Possa te imaginar sorrindo...
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Gustavo Sinder

Sua Chegada


Hoje golpeou uma brisa nos meus lábios
E eu lembrei seus beijos
Lembrei do raiar doce
Do dia e da boca da noite
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Hoje o dia frígido
Lembra-me seu abraço
Seu agrado abafado
E seu toque cadenciado pelo ardor
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E nesses pensamentos
Meu corpo se arrepia
E meus olhos clareiam
A sua chegada
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E você chega no bico do passarinho
No bálsamo de uma fina flor
Na saudade germinada em lágrimas
E nas loucuras que acenam o amor...
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Gustavo Sinder
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(homenagem a um amigo desconhecido,o autor. Homem sensível e apaixonado)

quarta-feira, 15 de março de 2006

Procissão...


Entre alamedas vazias,
Azulejos decorados
De um sacro silêncio,
Rebocos, beirais, vitrais,
Sinos ecoam incomodam o azul,
As ladeiras de pedra
E os homens a seguir o destino em procissão,
As ladeiras de pedra e os homens a seguir,
As ladeiras de pedra tentam a remissão:
Os homens de pedra a seguir vão,
Os homens de pedra,
Os homens, em vão.
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( do amigo sensível Tonho França )

sábado, 11 de março de 2006

"Chove, de manso, na cidade"


Chora em meu coração
como chove lá fora.
Porque esta lassidão
me invade o coração?
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Oh! ruído bom da chuva
no chão e nos telhados!
Para uma alma viúva,
oh! o canto da chuva!
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E chora sem razão
meu coração amargo.
Algum desgosto? - Não!
É um pranto sem razão.
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E essa é a maior dor,
não saber bem por que,
sem ódio sem amor,
eu sinto tanta dor.
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Arthur Rimbaud

ORAÇÃO DA NOITE



Ajoelhada, ó meu Deus, e as duas mãos unidas,

Olhos fitos na Cruz, imploro a tua graça...
Esconde-me, Jesus! da treva que esvoaça
Na tristeza e no horror das noites mal dormidas,
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Maria! Virgem mãe das almas compungidas,
Sorriso no prazer, conforto na desgraça...
Recolhe essa oração que nos meus lábios passa
Em palavras de fé no teu amor ungidas.
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Anjo de minha guarda, ó doce companheiro!
Tu que levas do berço ao porto derradeiro
O lúrido batel de meu sonhar sem fim,
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Dá-me o sono que traz o bálsamo ao tormento,
Afoga o coração no mar do esquecimento...
Abre as asas, meu anjo, e estende-as sobre mim.
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Auta de Souza
Macaíba - 3 de Abril de 1899.

Movido a


No teu
umbigo bebo
o suco afrodisíaco,
combustível
que move e
segura
o jogo de
cintura.


Xico Sá

quarta-feira, 8 de março de 2006

O HOMEM E A MULHER



O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher é o mais sublime dos ideais.
Deus fez o homem para um trono; para a mulher ,um altar.
O trono exalta; o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher o coração.
O cérebro produz luz; o coração o amor.
A luz fecundo; o amor santifica.
O homem é o gênio; a mulher é o anjo.
O gênio é imensurável,o anjo indefinível.
A aspiração do homem é a suprema glória;
A aspiração da mulher , a virtude extrema.
A glória traduz grandeza,
A virtude traduz divindade.
O homem tem a supremacia,
A mulher, a preferência
A supremacia representa a força
Á preferência representa o direito.
O Homem é forte pela razão;
A mulher é invencível; pela lágrima.
A razão convence, a lágrima comove.
O Homem é capaz de todos os heroísmos,
A mulher de todos os martírios.
O heroísmo enobrece, o martírio sublima.
O homem é o código,a mulher o evangelho.
O código corrige, o evangelho aperfeiçoa.
O homem é um templo, a mulher um sacrário;
Ante o templo nos descobrimos:
Ante o sacrário, ajoelhamo-nos
O homem pensa; a mulher sonha;
Pensar é ter cérebro;
Sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é um oceano,a mulher um lago.
O oceano tem a pérola que o embeleza;
O lago tem a poesia que o deslumbra.
O homem é a águia que voa:
A mulher o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço,
Cantar é conquistar a alma.
O homem tem um farol: a consciência;
A mulher tem uma estrela : a esperança.
Um farol guia, a esperança salva
Enfim o homem está colocado onde termina a terra,
A mulher, onde começa o céu.
(Victor Hugo)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

DESEJOS VÃOS


Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!
Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!
E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisa-as toda a gente!...
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(Florbela Espanca)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

do Miguelito Acosta - Hoje resolvi te escrever uma poesia


Gostaria de ser
O Sol para aquecer
O Luar do seu anoitecer
A Brisa do seu amanhecer
A Morada para te acolher
A Fonte para te dar de beber
O Alimento para te fortalecer
O Teu desejo de obter
O Seu mais belo prazer
A felicidade do seu viver
E fazer parte do seu ser
Isso tudo por você
º
do Miguelito Acosta, amigo orkutiano mui dedicado!

sábado, 11 de fevereiro de 2006

Vendaval



Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!
Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!
Mas dura planície, praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.
Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles — teu pulso divida
Minh'alma do mundo!
Ah, se, como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar -
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!
Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver -
Porque é que não entras no meu penssamento
Para ele morrer?
Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!
E, pela alta noite que fazes mais'scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.
E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!
Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!
Fernando Pessoa

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Papel Marché


Cores do mar,
festa do sol
Vida fazer todo o sonho brilhar
Ser feliz,
no teu colo dormir
E depois acordar
Sendo o seu colorido
Brinquedo de papel marché

Dormir no teu colo é tornar a nascer
Violeta e azul outro ser
Luz do querer
Não vai desbotar, lilás cor do mar
Seda cor de batom
Arco-íris crepon
Nada vai desbotar
João Bosco

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Nossa Truculência


Quando penso na alegria voraz
com que comemos galinha ao molho pardo,
dou-me conta de nossa truculência.
Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,
tanto gosto delas vivas
mexendo o pescoço feio
e procurando minhocas.
Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?
Nunca.
Nós somos canibais,
é preciso não esquecer.
E respeitar a violência que temos.
E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,
comeríamos gente com seu sangue.
Minha falta de coragem de matar uma galinha
e no entanto comê-la morta
me confunde, espanta-me,
mas aceito.
A nossa vida é truculenta:
nasce-se com sangue
e com sangue corta-se a união
que é o cordão umbilical.
E quantos morrem com sangue.
É preciso acreditar no sangue
como parte de nossa vida.
A truculência.
É amor também.
Clarice Lispector

De Ernestina


...también los *perrillos comen de las migajas
que caen de la mesa de sus señores.
Mateo 15, 27 CRUZÓ el *perro la calle.
Era el *perrillo aquel de las migajas,
el que espera debajo de la mesa,
el que no tiene nombre
y al que si se extravía
no lo reclama nadie.
Y era el único ser
en tarde de domingo.
-Allá enfrente la ausencia
de ese árbol que daba su verdor
en un sitio imposible.
Y el perro por la acera
seguro y solitario.
¿A dónde iría hoy
en esta hora muerta
sin coches ni autobuses,
con un pasito breve,
voluntarioso, firme?
Una mano invisible
le alisa la pelambre.
Ernestina de Champourcin

Estrela perigosa


Estrela perigosa
Rosto ao vento
Marulho e silêncio
leve porcelana
templo submerso
trigo e vinho
tristeza de coisa vivida
árvores já floresceram
o sal trazido pelo vento
conhecimento por encantação
esqueleto de idéias
ora pro nobis
Decompor a luz
mistério de estrelas
paixão pela exatidão
caça aos vagalumes.
Vagalume é como orvalho
Diálogos que disfarçam conflitos por explodir
Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é
Clarisse Lispector

Sentimentos


" Como o amor,
o apelo da música é universal.
E seus ritmos expressam todas as estações da alma.
O homem não sabe o que diz
o pássaro ou o córrego,
ou as ondas, ou a chuva.
Mas seu coração percebe
misteriosamente
o sentido de todas essas vozes
que hora o alegram, hora o entristecem."
(Gibran).

domingo, 29 de janeiro de 2006

Angie


Angie, Angie, when will those clouds all disappear
Angie, Angie, where will it lead us from here
With no loving in our souls and no money in our coats
You can't say we're satisfied
But Angie, Angie, you can't say we never tried.
Angie, you're beautiful, but ain't it time we said goodbye
Angie,
I still love you, remember all those nights we cried
All the dreams we held so close seemed to all go up in smoke
Let me whisper in your ear
Angie,
Angie, where will it lead us from here
Oh,
Angie, don't you weep, all your
kisses still taste sweet
I hate that sadness in your eyes
But
Angie,
Angie, ain't it time we say good-bye
With no loving in our souls and no money in our coats
You can't say we're satisfied
But Angie, I still love you, Baby, everywhere I look I see your eyes
There ain't a woman that comes close to you, come on baby, dry our eyes
But Angie, Angie, ain't it good to be alive
Angie, Angie, they can't say we never tried
Rolling Stones

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Lua Adversa


Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vem,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu
Cecília Meirelles

domingo, 22 de janeiro de 2006

Sempre




Nem te vejo por entre a gelosia;
Nunca no teu olhar o meu repousa;
Nunca te posso ver, e todavia,
Eu não vejo outra cousa!

João de Deus

sábado, 21 de janeiro de 2006

Ai! Se sêsse!...


Ai! Se sêsse!...

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

Zé da Luz

Hoje



O que menos quero pro meu dia
polidez,
boas maneiras.
Por certo,
um Professor de Etiquetas
não presenciou o ato em que fui concebido.
Quando nasci, nasci nu,
ignaro da colocação correta dos dois pontos,
do ponto e vírgula,
e, principalmente, das reticências.
(Como toda gente, aliás...)

Hoje só quero ritmo.
Ritmo no falado e no escrito.
Ritmo, veio-central da mina.
Ritmo, espinha-dorsal do corpo e da mente.
Ritmo na espiral da fala e do poema.

Não está prevista a emissão
de nenhuma “Ordem do dia”.
Está prescrito o protocolo da diplomacia.
AGITPROP – Agitação e propaganda:
Ritmo é o que mais quero pro meu dia-a-dia.
Ápice do ápice.
Alguém acha que ritmo jorra fácil,
pronto rebento do espontaneísmo?
Meu ritmo só é ritmo
quando temperado com ironia.
Respingos de modernidade tardia?
E os pingos d’água
dão saltos bruscos do cano da torneira
e
passam de um ritmo regular
para uma turbulência
aleatória.

Hoje...
Waly Salomão

Imaginação ...


Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...


M Quintana

Bilhete


Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Mário Quintana

Debussy


Debussy

Para cá, para lá . . .
Para cá, para lá . . .
Um novelozinho de linha . . .
Para cá, para lá . . .
Para cá, para lá . . .
Oscila no ar pela mão de uma criança
(Vem e vai . . .)
Que delicadamente e quase a adormecer o balança
— Psio . . .
—Para cá, para lá . . .
Para cá e . . .
— O novelozinho caiu.
Manoel Bandeira

Unicórnio


Unicórnio Dourado
O mar não é tema: tema é o ar do mar.
A poesia é didática - luz
sobre a história e esquecidos altares.
Toda estética; toda, puericultura
lagos oceânicos; ilhas, promontórios
as cidades primevas, o sangue dos heróis
tudo fica muito aquém e além de tuas caldeiras.
De tuas membranas, de tuas
álgidas montanhas marinhas
surge o unicórnio dourado
carregado de sonho e solidão.
E sobre as ondas aquece-se; talvez
esquecido do tempo; a que fim
este unicórnio soçobra-se de mim?
Plumas e pratas patas - unicórnio
um e único - mar
oh soberano rei dos sorvedouros!
José Alcides Pinto

Poeminha Amoroso


Poeminha Amoroso
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo!!!
Cora Coralina

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Nosso espectro, amor ...


Me hospedo na estalagem 7ªLua...
Onde as cores são imaginárias...
O som do Silêncio, sustenido,
Som palpável
e...
Ainda assim não te vejo...
Ainda assim te busco.....

Quando o verde do meu amor encontrar o som da sua cor...
Então lhe direi : 'Te Amo!'
Uma vez mais, então.

domingo, 15 de janeiro de 2006

Num Monumento à Aspirina




Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda a hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia. ...
[Num Monumento à Aspirina, poema do livro A Educação pela Pedra]
João C M Neto

De todas as Maneiras


Chico Buarque de Holanda
De Todas as Maneiras


De todas as maneiras
Que há de amar
Nós já nos amamos
Com todas as palavras feitas pra sangrar
Já nos cortamos
Agora já passa da hora
Tá linddo lá fora
Larga a minha mão
Solta as unhas do meu coraçãao
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão
De todas as maneiras que há de amar
Já nos machucamos
Com todas as palavras feitas pra humilhar
Nos afagamos
Agora já passa da hora
Tá lindo lá fora
Larga a minha mão
Solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão

Soneto


Gregório de Matos
Soneto
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.

Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco c'os demais, que só, sisudo.

FLAUTA LIVRE


Taiguara
Larga esse recibo
Fecha essa gaveta
Abre a vida nova que vem
Veste a tua pele e vai trabalhar
Deixa ela te olhar e entender
Vão te olhar de lado
Vão fechar a porta
Vão dizer que ela saiu
Pois há uma flauta livre na tua mão
Toca teu amor pra ela ouvir
Essa vontade de amar
De mão dada e beijar
Teus irmãos
Não há mentira nem porta
Fechada que possa matar
Não há futuro negado
Pra quem trabalhou com amor
Nem há dinheiro que pague ilusão
Nem compre mágicas
Músicas, espírito.
Sai nessa aventura
Entra nesse templo
Sobe nessa escada e cai
Brinca co’as crianças
E crê no sol
Dorme pra acordar e nascer

Um Biguá e o Mercado


Solto no Mercado
E o dono do mercado comemora
Você liga na hora das compras
Pego tudo sem demora
E sem ver o que pego agora
Café descafeinadoSabonete desnatado
Camarão congelado
Que vou ter de dar sumiço
Antes de um compromisso
Amanhã volto ao mercado
Para pegar o que fui buscar
Uma pimenta vermelha
Para aquela simpatia
De fazer você ligar
de: Car

sábado, 14 de janeiro de 2006

Panis et circenses

Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas da sala de jantar
São preocupadas em nascer e morrer
Mandei fazer de puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às sete horas na avenida central
Mas as pessoas da sala de jantar
São preocupadas em nascer e morrer
Mandei plantar
folhas de sonho no jardim do solar
as folhas sabem procurar pelo sol
e as raízes procurar, procurar
Mas as pessoas na sala de jantar
Essas pessoas na sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas na sala de jantar
São preocupadas em nascer e morrer
Essas pessoas na sala de jantar
Essas pessoas na sala de jantar
Essas pessoas na sala de jantar
Essas pessoas ...

Um poeta da madeira

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
HERBERTO HELDER

de Quintana



EU ESCREVI UM POEMA TRISTE
Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do
Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
em importa, ao velho
Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mario Quintana - A Cor do Invisível